Canto tanto Rio Tinto quanto Mamanguape
Enquanto o cano de escape escapole na Br
As autopistas que deixo pelo caminho
São para aqui, meu benzinho
se quiser me achar não erre
Em Cabedelo uma menina perguntou
de onde venho e se eu sei pra onde vou
Eu disse a ela: tanto faz, Café do Vento
O lugar e o momento
é um sentimento quando estou
Me leva contigo, amigo, eu te digo, ela disse
Eu disse: olha quem te leva são suas asas
As nossas casas são de sonho e de sereno
O amor é um doce veneno
que deixa as almas em brasa
E ela sorriu pra mim, e então disse assim
Já vou, e foi, antes que eu contasse o fim
Autopistas, música eletrizante, puxada para o Rock e de letra genial dá partida com barulho e nos conduz em alta velocidade… Pra onde? Para onde as asas do desejo nos levar, em deslizamentos incontáveis nas autopistas da vida.
Aqui tudo é intenso e volátil… Os passageiros desse louco veículo estão em busca de acontecimentos inesperados, transformando a vida num road movie cheio de aventura, com paisagens, pessoas e acontecimentos inusitados.
Freud em “O Mal-estar na Civilização” retoma a grande questão da filosofia: trocamos uma parcela de felicidade pela segurança na vida civilizada.
Felicidade é um significante que remete a estado de plenitude e pode ter várias leituras, as quais eu privilegiaria a que a coloca como um ideal inatingível de plenitude, uma miragem. Geralmente associamos a boas sensações.
Aqui, na adrenalina que a música traz, podemos tomá-la não como princípio do prazer, mas como aquilo que ainda vai além dele, transborda, excede, e que Lacan viria chamar de gozo. Um prazer que tão intenso e fugaz, arde, traz dor. A boa sensação se volta mais pelo fato de ser forte e inesquecível.
A segurança ao contrário, traria a estabilidade, previsão, nos poupa de riscos e, por outro lado, produz experiências de tonalidades mornas.
O psicanalista nunca terá uma resposta pronta de qual caminho o sujeito deverá trilhar. As grandes questões que se apresentam é pra onde ele quer ir e como.
Qualquer que seja o caminho, Chico nos provoca, com sua música, a sondar, pela via da imaginação e do afetos, uma das rotas possíveis do nosso desejo e deixa com a gente a tarefa de imaginar como seria esse fim.
Por onde vai a vida e o amor? Por caminhos familiares, conhecidos e seguros ou pelas autopistas velozes e cheias de aventura? Em Autopistas, Chico nos conduz por essas últimas…