Não tem dó no peito
Não tem jeito
Não tem coração que esqueça
Não tem ninguém que mereça
Não tem pé não tem cabeça
Não dá pé não é direito
Não foi nada eu não fiz nada disso
E você fez um bicho de 7 cabeças
Bicho de 7 cabeças
Vamos falar do que Geraldo nos faz pensar…
A inflação de ideias e imagens pré-fabricadas que vamos aplicando aos nossos sofrimentos pode mais atrapalhar que ajudar. E o amor é um prato cheio pra criar um mundo paralelo. Às vezes temos reações desproporcionais. Comportamo-nos como loucos e brigamos, criamos caso.
Pegamos uma impressão, um traço de um comportamento do outro na realidade, e que de fato aconteceu, o outro fez; mas montamos um drama trágico cheio de detalhes que o outro nem fez e nem pensou, com base no nosso imaginário, com base em experiências passadas.
E de repente o outro não fez (quase) nada e criamos um bicho de sete cabeças.tal como fala ao coração a letra linda e perturbadora de Geraldo Azevedo.
Com carinho ao Geraldo e ao “tocar” sobre o que rola nos nossos corações.
Vocês já passaram pela situação de perder um relacionamento por um ato impulsivo? Uma reação diante do que parecia ser um bicho de sete cabeças, mas na realidade depois deu para ver que não era? Como a análise trataria esse “bicho”?
Não dá pé não tem pé nem cabeça
não tem ninguém que mereça
não tem coração que esqueça
não tem jeito mesmo
não tem dó no peito
não tem nem talvez ter feito
o que você me fez desapareça
cresça e desapareça
Como a análise trataria esse bicho de sete cabeças? Recorro ao Contardo, à um trecho do seu artigo na Folha em janeiro de 2005 . Lá ele falava sobre como tratar os nossos demônios, a busca exagerada de sentido que nos assombra em situações traumáticas como a doença e a morte. Já aqui, passo a falar dos “demônios” que temos que lidar no campo amor e suas dores, não menos importantes e pungentes.
Contardo falava de uma das etapas da análise, pertencente a uma fase mais profunda e tardia, e que se daria depois de um longo trabalho de recordar/repetir/elaborar freudiano: seria o momento que, enfim, se esvai o excesso de sentido que damos às coisas.
A análise tem vários momentos. Primeiro: de ver, de dar sentido; Em segundo: de compreender, de ligar e integrar os sentidos; e depois desse percurso, tem o momento que o Contardo me chamou a atenção nos seus escritos, e que eu nomearia como momento de concluir lacaniano. Nele, nos livramos dos sentidos que nos prendem. Sim, analisar é também nos livrar de um milhão de pensamentos que só tornam nossa vida mais difícil.
E então nossos sofrimentos deixam de ser um bicho de sete cabeças, tornam-se apenas sofrimentos. E no campo do amor tal reflexão pode ser muito válida, evitando sacrifícios de relações que poderiam ser longevas, se não tivéssemos uma imaginação tão fértil e uma reação tão exagerada.
Com carinho à memória do Contardo, às suas reflexões tão vivas. Elas possibilitaram que a psicanálise fosse discutida, que tivesse eco num jornal de grande circulação, de forma simples, delicada e profunda. Simples e profunda… Sempre me pergunto como isso pôde ter acontecido. E aconteceu.
Esta reflexão é com carinho ao Geraldo e ao “tocar” sobre o que rola nos nossos corações.
Por que fazemos um bicho de sete cabeças com situações que eram, aparentemente, insignificantes?
Vocês já passaram pela situação de perder alguém que gostavam por um ato impulsivo? Uma reação diante do que parecia ser um bicho de sete cabeças mas, na realidade, depois deu para ver que não era? Como a análise trataria esse “bicho”?