Vocês amam o amor? Se me responderem no automático que sim, a única resposta esperada, aceitável, ainda mais quando estamos em público e queremos manter uma boa imagem (de um ser amoroso), seja para os outros e para si mesmos, parem e pensem melhor. Talvez a resposta sincera seja inconfessável. Caetano nos provoca o coração. Vamos à sua letra.
Quereres
Caetano Veloso
Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero e não queres como sou
Não te quero e não queres como és
O amor pode ser odiável, não é? Que absurdo eu acabei de escrever. Serei cancelado? Mas a música do Caetano fala ao coração. Traduz algo que seria tão difícil de exprimir. Como os artistas tornam bonitas algumas experiências que beiram o insuportável! Ainda bem que eles tão aí, pra tornar interessante e até poética nossa batalha diária nos relacionamentos com as pessoas. Sem essa poesia, talvez o real fosse pura desilusão e vazio.
O ponto é que não encontramos exatamente o que buscamos nas pessoas que amamos. É uma luta. As pessoas sempre estão em falta ou, ao contrário, estão presentes demais na nossa vida, sufocando-nos. E o amor é o que dá pra fazer nesse desarranjo.
Não falo aqui da paixão, claro, daquele momento em que temos a ilusão de que encontramos o par perfeito. Aí depois o tempo passa e vamos vendo que o outro é apenas um ser humano. Falo dessa criatura do dia a dia, ordinária, tão ordinária como nós mesmos. Que pode até nos surpreender. Às vezes.
Permitam-me uma provocação? Não amo o amor. Amar não é nada fácil e quanto sufoco já passei. Mas também não consigo viver sem ele. Ainda bem que não. E vocês?